Por complicações da Covid-19, morreu Aruká, reconhecido como o último homem do povo Juma, dia 17, em Rondônia. O ancião deixou três filhas, netos e bisnetos. Conforme apuração da BBC, como suas sucessoras se casaram com homens do povo Uru-eu-wau-wau, os descendentes de Aruká carregam o sangue das duas etnias, mas, pelo sistema patrilinear, não são Juma, daí o título de último representante. “O governo não cuidou, e agora nós temos que manter o legado do meu avô”, disse à matéria Bitaté Uru-eu-wau-wau, um de seus netos.
O indígena foi um dos sete sobreviventes do massacre no rio Assuã, no sul do Amazonas, em 1964, que vitimou mais de 60 pessoas, em ataque de comerciantes de Tapauá interessados na sorva e na castanha do território Juma. Em nota sobre sua morte, que foi recebida com consternação por entidades indígenas, o Instituto Socioambiental (ISA) relembrou seu histórico de luta, decisivo para a garantia de direitos de seu povo.
Por sua extrema vulnerabilidade e risco de desaparecimento, o povo é considerado de recente contato e deveria ter sido protegido por Barreiras Sanitárias contra o avanço da pandemia da Covid-19, segundo determinação do STF, algo que não aconteceu, conforme denúncia da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).
A negligência do governo Bolsonaro com os indígenas durante a pandemia tem deixado marcas irreparáveis na população, e o quadro se mantém com a chegada da vacina contra a Covid-19. Em tese, indígenas que vivem em aldeias – critério apontado como racista por entidades e ambientalistas – estão no grupo prioritário do plano de vacinação nacional, porém, dados recentes apontam que a imunização tem acontecido em ritmo lento, alvo de notícias falsas e discursos religiosos negacionistas. Segundo o G1, 71% dos indígenas da Amazônia ainda não tomaram a vacina. A matéria ouviu relatos de representantes Yanomamis, Kayapós e de outras comunidades amazônicas sobre a desinformação sobre a vacinação. “As mentiras chegam nas redes sociais para nós, na verdade, todas as aldeias, não é só pra nós não. Nos Yanomami [Roraima] aconteceu a mesma coisa e chegaram a denunciar essas pessoas que estavam mandando áudio. Também está acontecendo com os Munduruku [Pará]”, disse o cacique Mobu odo Arara, da Terra Indígena Cachoeira Seca, no Pará.
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