O presidente Jair Bolsonaro usou seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque (EUA), para mostrar ao mundo seu programa de extrema-direita, pró-ditadura e anti-indígena. Em pouco mais de 30 minutos, ele desafiou os críticos de suas políticas para o meio ambiente, atacou multas ambientais e alegou que os números recordes de incêndios florestais registrados em 2019 são inflados pela mídia global para atacá-lo.
A revista New Yorker resumiu a declaração de Bolsonaro: “Bolsonaro fez uma defesa previsivelmente provocadora das políticas de seu país para a questão do meio ambiente, especialmente para floresta tropical amazônica, que tem 60% de sua extensão territorial dentro das fronteiras do Brasil. Para estrangeiros, ouvir a fala de Bolsonaro sobre o tema foi uma experiência surreal (…) Neste verão, a floresta estava em chamas. Mas, na terça-feira, Bolsonaro garantiu que as matas estão “praticamente intocadas” e culpou uma mídia “mentirosa e sensacionalista” por propagar fake news de sua destruição.”
Durante seu discurso, Bolsonaro também minimizou a noção de que a Amazônia é uma “herança da humanidade”; um recado ao presidente francês, Emmanuel Macron. Ele reafirmou que não haverão novas demarcações de terras indígenas e reclamou da extensão das demarcações atuais. Ele também focou seus ataques contra o Cacique Raoni, uma liderança histórica dos movimentos indígenas, nomeada para o Prêmio Nobel de 2019.
“A visão de um líder indígena não representa a de todas as comunidades indígenas. Certas vezes esses líderes, como o cacique Raoni, são manipulados por governos estrangeiros em suas guerras de informações com interesses sobre a Amazônia”, ele disse.
O cacique Raoni foi ao Congresso Nacional no dia seguinte das declarações de Bolsonaro. “Bolsonaro falou que não sou uma liderança, mas ele que não é líder e tem que sair. Antes que algo muito ruim aconteça, ele tem que sair. Para o bem de todos”, disse a liderança caiapó.
Dados divulgados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no dia 24 de setembro, mostram que invasões a terras indígenas cresceram 44% em 2019, quando comparado com 2018. As invasões para garimpo, caça, grilagem e explorações de recursos naturais coincidem com o aumento de 22% no número de indígenas assassinados. “A agressividade no discurso do presidente da República e de membros do governo serve de combustível para a violência cometida contra os territórios e os povos originários”, disse o Cimi.