4 fev 21
Seguindo o fio da “boiada”
Voltamos!
Que início de ano puxado, né?
Começamos 2021 com a segunda onda da pandemia do coronavírus agravada pelo terrorismo sanitário do governo federal, com mais de 210 mil mortos pela covid-19 e atrasos no plano nacional de vacinação. Sem mencionar o aprofundamento da crise econômica, com altos índices de desemprego e crescimento da miséria no país.
Enquanto o caos da pandemia e da economia domina as manchetes e nosso senso de urgência, a devastação socioambiental segue à todo vapor. A crise nos principais biomas brasileiros continua turbinada pela grilagem de terras, desmatamento descontrolado e queimadas recordes na Amazônia, Pantanal e Cerrado, somada à violência contra indígenas, quilombolas e lideranças camponesas.
Neste contexto de pesadelo, ligar os pontos entre a conjuntura política, os problemas estruturais e as multi-crises contemporâneas é o verdadeiro desafio de quem busca soluções democráticas para o país. Esse tem sido o objetivo da equipe de Sinal de Fumaça: literalmente, ajudar a sociedade a não perder o fio da “boiada”, como verbalizou o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, naquela fatídica reunião ministerial de abril de 2020.
Uma pesquisa rápida sobre queimadas e desmatamento, por exemplo, revela que os dados de alta de 81% na média anual de desmatamento da Amazônia em 2019 em comparação a 2016-2018 já indicavam que 2020 seria um ano de explosão de incêndios florestais. Isto porque no ciclo da destruição florestal, quanto maior o desmatamento acumulado, maior o volume de queimadas no ano seguinte. Segundo o INPE, foram registrados 222.788 focos de incêndios em 2020, 12% a mais que em 2019 e maior índice da última década.
A leitura das notícias em ordem cronológica explica como a criminalização das ONGs, os cortes de orçamento público e o enfraquecimento do Ibama e da Funai resultaram no menor índice de multas ambientais aplicadas nos últimos anos. A relação entre a pandemia e os povos tradicionais também figura com destaque na linha do tempo graças ao descaso do executivo federal com a saúde básica e a negação do direito à terra. Populações indígenas e quilombolas têm registrado casos de covid-19 acima da média nacional.
Mesmo com a presença das Forças Armadas, a reação indignada da sociedade, denúncias na imprensa e na ONU e seguidas ameaças comerciais de compradores do agronegócio brasileiro, a tendência é que a crise socioambiental se agrave ao longo de 2021. O governo Bolsonaro, ao contrário do que demonstra a oposição, sabe que a pauta é decisiva no jogo de forças do Congresso Nacional. A Bancada Ruralista conta com 280 parlamentares e soma poder com o lobby da mineração, operando como fiel da balança para a aprovação de reformas econômicas, eleição do comando das casas legislativas e eventuais processos de impeachment.
Se no plano nacional parece difícil segurar a boiada de Salles e Bolsonaro, internacionalmente a gestão Biden/Harris nos EUA promete se juntar à União Europeia para aumentar a pressão diplomática e econômica sobre o Brasil em função das queimadas e da emergência climática. O processo, porém, é lento e os impactos não serão sentidos imediatamente por aqui.
Na missão de prestar testemunho qualificado e documentar esse momento histórico, continuaremos monitorando o desmonte socioambiental e divulgando dados científicos e ações da sociedade civil.
Há resistência.
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